sábado, 30 de janeiro de 1999

Ilha do Mel PR - Há sempre uma pedra no caminho...



Janeiro de 1999. Depois de vários dias chuvosos, saímos de São Paulo e enfrentamos mais de 400 Km de estrada até Curitiba, no Paraná. De lá seguimos todas as indicações para chegar até a Ilha do Mel, acompanhados de um mundo de mapa nas mãos. Sim, estávamos de férias e queríamos aproveitar estes dias na Ilha com muita tranquilidade. A Ilha do Mel tem belíssimas praias, monumentos históricos, pousadas e restaurantes simples, mas acolhedores e aconchegantes.
Já no Porto, em Pontal do Sul, confesso que nós assustamos com o barquinho que nos levaria até a Ilha, mas já que estávamos lá mesmo... O céu encoberto escondia o sol que nós tanto esperávamos. Após algumas poucas horas, nos deparamos com o refúgio que pedimos a Deus: uma pousada beira-mar, de visual compensador, que enchia nossos olhos de uma beleza selvagem, ainda não tocada pelo homem.
Depois de identificarmos nosso território, conversamos durante horas com o dono da pousada. Ele dizia ser profundo conhecedor das trilhas de mountain bike da região e nos deu muitas dicas. A princípio nos recomendou a trilha de Nova Brasília que leva a Praia de Encantadas. Segundo ele, era o melhor caminho da Ilha para a prática do mountain bike.
Assim como no dia anterior, o dia amanheceu nublado. Mal conseguimos dormir, ansiosos pela nova aventura. Depois de um farto café da manhã, verificamos todos os itens de segurança e seguimos em frente. Iniciamos a pedalada ainda pelo centrinho da Ilha antes de encontrarmos o caminho da trilha.
Os primeiros quilômetros foram de areia fofa, mar cristalino, vegetação nativa e ninguém por perto. Tudo parecia muito perfeito para ser verdade... quando cinco quilômetros depois, nos deparamos com um enorme caminho de pedras, um verdadeiro costão. E claro que não seria difícil de atravessar se a maré estivesse baixa. O dono da pousada só esqueceu de nos avisar sobre os horários de maré alta...
Voltar os cinco quilômetros para a pousada seria demais para o nosso ego. Assim, respiramos fundo e encaramos o desafio, ou melhor, o Cris encarou... Ele carregou a bike dele nas costas e depois voltou para buscar a minha! Em pouco mais de uma hora e muitos arranhões, nós fizemos a travessia e estávamos pedalando em direção ao Morro do Sabão (dá para imaginar por que tem este nome?).
Novamente o meu herói carregou nossas bikes morro acima. Eu? Bem, eu só consegui subir o morro porque subi de “quatro”. É isso mesmo, de quatro. Dei graças a Deus porque a subida estava no fim. Mas, quando chegamos ao topo quase tivemos um enfarte, daqueles fulminantes: a descida do morro era ainda pior que a subida. E mais: a continuação do caminho pela praia era através de um longo caminho de pedras, muito pior do que aquele que nós tínhamos atravessado antes.
Voltar? Nem pensar. Tive vontade de sentar e chorar. Não podíamos voltar porque sabíamos que a volta seria também muito difícil. Então continuamos. A essa altura do dia, o sol já estava a pino. Eu, sem protetor solar, vi a cor da pimenta vermelha se apossar do meu corpo, além de muitos cortes e arranhões.
Continuamos mantendo a calma, pedra por pedra, escorregão por escorregão. Não tínhamos mais água. Nossos olhos procuravam desesperadamente por algum socorro, mas... não havia ninguém por perto. Ninguém. Nenhum barco, lancha, barraca, helicóptero, avião, nada. Ninguém. Nenhuma santa alma... Estávamos na paz do deserto que tanto procurávamos. Só ouvíamos o barulho das ondas e dos pássaros, que nada poderiam fazer para nos ajudar.
A certa altura, enquanto descansávamos, pensamos seriamente na possibilidade de abandonar as bikes ali mesmo e prosseguirmos a pé. Novamente, respiramos fundo, nos agarramos as nossas últimas forças e seguimos em frente, carregando nossas bikes.
Após seis longas horas, chegamos ao tão esperado destino, a Praia de Encantadas. Já sem forças, nos jogamos no primeiro pedaço de chão que encontramos (mas sem pedras...). Quando as pessoas dali nos viram, tivemos a impressão de que nos enxergaram como verdadeiros extra-terrestres. Ninguém acreditava que viemos por aquele caminho de pedras, no horário da maré alta. Sim, nós viemos. E vencemos.
Após um bom descanso e uma boa refeição, começamos então a nos lembrar que ainda teríamos que voltar... Ah meu Deus... Jamais pelo mesmo caminho! Mas, após algumas informações, já estávamos a caminho da nossa praia: de lancha sim, e em apenas 15 minutos...

quarta-feira, 6 de janeiro de 1999

Quando o Parque do Ibirapuera ainda era o limite

Nos tornamos freqüentadores assíduos do Parque do Ibirapuera. Pedalávamos incansavelmente naquele congestionamento de bikes, pedestres, patins e outros esportes. Mas nos sentíamos realizados: tínhamos uma atividade saudável e um esporte gostoso para praticar nos finais de semana.
Contávamos cada dia da semana para a chegada daquele sábado ou domingo tão esperado no Parque do Ibirapuera. Essa espera nos trazia vida, uma vontade cada vez maior de aproveitar cada minuto do nosso tempo para praticar esportes e fazer o que realmente gostávamos.
Na sexta-feira a noite já arrumávamos tudo para a pedalada do dia seguinte. No sábado acordávamos bem cedo para aproveitar o Parque ainda mais vazio. Mas em pouco tempo já se formava um enorme congestionamento de pedestres na ciclovia.
Mesmo assim nós adorávamos. Depois de horas de pedaladas, escolhíamos dentro do Parque uma lanchonete bem simples que servia uma água de coco deliciosa. Era muito gostoso estacionar as bikes à sombra e nos recostarmos numa árvore para comentar a nossa manhã de sol no Parque.
Pedalamos tanto em ao redor daquele lago, que com o passar do tempo queríamos mais. Acompanhávamos na época revistas especializadas sobre mountain bikes e sonhávamos ir mais longe. Estávamos eufóricos com a possibilidade de fazer trilhas na terra, entre montanhas, rios e cachoeiras. Queríamos o esporte em verdadeiro contato com a natureza. Mas sabíamos que nossas bikes ainda não eram ideais para esse tipo de percurso.
Devoramos inúmeras revistas e livros sobre o esporte, sobre turismo e sobre uma futura (e longínqua) aquisição: uma mountain bike de verdade. Foi nesta época que começamos a estudar o mountain bike. Líamos tudo sobre o assunto, sobre as bikes importadas, com suspensão, os equipamentos adequados e as verdadeiras trilhas. A cada nova pedalada no Parque, estávamos alimentando mais um pedacinho desse sonho. Tivemos muita paciência e curtimos muito esses momentos. Sempre soubemos que sonhar é vital para se sentir feliz e com vontade de viver cada dia mais. Sempre acreditamos nisso.

sexta-feira, 1 de janeiro de 1999

Como tudo começou...O patins ou a bike?

Nós estávamos decididos a fazer algo diferente nos finais de semana. Queríamos algo mais: esporte, vida, adrenalina. Escolhemos uma bela tarde de sábado para ir ao shopping procurar por nosso passatempo. Pensávamos numa bicicleta e fomos decididos a escolher duas iguais. Mas, como nada é fácil...
Vivíamos a época da moda de patins, aliás, mais parecia uma febre. Já andávamos há muito tempo quando nos deparamos com uma grande loja de esportes. Logo na entrada, o Cris fixou os olhos num belo par de patins, estampado escandalosamente na vitrine. E adentrou a loja decidido a mudar de idéia. Sim, ele teve um surto, uma vontade maluca que quase me deixou louca – nós tínhamos escolhido uma bicicleta!
Perambulamos pela loja mais de 15 minutos até que o Cris pediu o tal patins ao vendedor. Enquanto ele calçava o patins, eu insistia desesperadamente para que ele pensasse melhor. Afinal, como poderíamos sair juntos, eu de bicicleta e ele de patins? Eu odiava pensar nessa idéia. Ao invés de nos divertirmos, acabaríamos arrumando uma grande briga.
Após quase duas horas, isso mesmo, duas grandes horas, o Cris caminha em direção ao caixa com aquelas botas pretas desengonçadas nas mãos. Bem, ele parecia estar caminhando para a morte: ele suava, suas mãos estavam trêmulas e ele me olhava com cara de interrogação... Eu sentia que não era o patins que ele queria. E na dúvida, era melhor que ele não fizesse nada sem certeza absoluta do que ele queria.
Já no caixa, eu o segurei pelo braço e sussurrei em seu ouvido: “Diga que esqueceu o cartão de crédito!” Só assim poderíamos ir embora sem maiores problemas com o vendedor, que nos dava atenção há muito mais de uma hora.De repente, ele se vira para o caixa e repete, baixinho, as minhas palavras: “Desculpa, mas ... esqueci o meu cartão de crédito. Vou buscá-lo e passarei aqui mais tarde.” Enfim, eu respirei aliviada, o Cris sorriu pra mim e o vendedor deve estar nos esperando até agora... Depois de tanta indecisão, voltamos para casa e resolvemos deixar a escolha das bikes para outro dia.