domingo, 30 de abril de 2000

Visconde de Mauá RJ - O desafio de vencer 42 km a 1200 m de altitude

04/2000.
Desta vez escolhemos uma viagem ainda mais emocionante: Tivemos um surto em plena tarde de sábado, de muito sol, e decidimos enfrentar uma viagem até Visconde de Mauá, RJ. Ate aí nada de mais, se não tivéssemos que fazer uma trilha de 42 Km no dia seguinte e ainda no mesmo dia retornar para São Paulo.
Os 400 Km da viagem não representavam muito, mas se transformaram num pesadelo quando passamos pela estrada à noite. Que estrada? Aquilo parece mais um desfiladeiro com um cantinho para a passagem de automóveis! Era noite e não conhecíamos o caminho. E para completar, uma neblina imensamente densa nos acompanhava na estrada, impedindo que pudéssemos enxergar qualquer coisa a nossa frente. Fizemos os 400 Km em 8 horas!
Chegamos em Visconde de Mauá às 03:00 horas da manhã. Completamente acabados depois de tanta tensão , cansaço e sono. Encontramos uma charmosa pousada nas montanhas, com direito a lareira e piscina. Simplesmente desmaiamos de sono. Bem, tivemos que nos contentar com apenas 4 horas de sono e acordar com a maior disposição para enfrentar os 42 Km a 1200 m de altitude (e praticamente sem dormir)
A trilha não é classificada como pesada. Mas a altitude, a longa distância, o cansaço da viagem na madrugada e o sono me fizeram classificá-la como tal. O visual da trilha é espetacular. Pedalamos durante horas no meio do nada, com a impressão de que as nuvens estavam pairando sobre nossas cabeças...
Aguardávamos com ansiedade, com sede e com fome por um barzinho descrito no mapa. Mas, quando nós o encontramos, existia apenas uma barraca abandonada, coberta pela mata. Longos Km à frente pudemos parar para um lanche. Um bar pequeno, simples mas muito simpático.
Pedalávamos com a força da alma, porque a impressão que tínhamos era de que as nuvens estavam nos empurrando para o chão, tamanho era a pressão que estávamos sentindo. Tudo estava tranqüilo, até que começamos a sentir uma forte umidade no ar. Pedalamos mais de 10 Km debaixo de uma tempestade alucinante... e junto com ela a noite caiu, fazendo com que pedalássemos mais rápido ainda.
Terminamos a trilha já noite. Chegamos em nossa pousada sentindo mais uma vez a alegria da vitória e nos preparamos à beira da lareira para retornar a São Paulo ainda na mesma noite. Afinal, no dia seguinte ainda teríamos que acordar cedo para trabalhar...


Sobre a foto?? Estávamos acabados ao final do dia....

segunda-feira, 31 de janeiro de 2000

Poços de Caldas MG: Adrenalina a mil na trilha do Cristo

01/2000


E lá estávamos, a caminho de Poços de Caldas, a 270 Km de São Paulo. Em plena época de tempestades... Saímos de São Paulo um dia após o último dia de chuvas fortes, que trouxeram muito prejuízo para a região. Tivemos de fazer desvios na estrada diversas vezes, porque as chuvas deixaram muitos caminhos bloqueados. Sinceramente, em alguns momentos cheguei a pensar que não chegaríamos lá.
Chegamos na cidade já de madrugada. Desta vez não foi difícil encontrar um bom hotel e com excelente preço mesmo em época de férias, quando tudo costuma estar lotado. A cidade é linda, perfeita para casais apaixonados. Tivemos tempo suficiente para conhecer os principais pontos turísticos em três dias. A Cachoeira do Véu das Noivas, a Locomotiva, o Xadrez Gigante, o Relógio Floral, a Fonte dos Amores, o Parque Municipal e o Teleférico (e ainda existem mais). Todos os passeios são cheios de charme e merecem uma visita.
Estávamos com medo da volta das tempestades. Então, antes de iniciarmos a Trilha da Cachoeira das Antas, ouvimos muito bem a previsão do tempo (de muito sol). Partimos para o Morro do Cristo, de carro, com as bikes. O visual é lá em cima é impressionante. Deixamos o carro estacionado e antes de iniciarmos a trilha, fizemos uma pausa para contemplar o visual do Morro, com muitas fotos.
A trilha é o máximo, tem descidas eletrizantes, e foram justamente essas descidas que nos deixaram apavorados: pudemos perceber todo estrago causado pela chuva . Se estivéssemos lá e começasse uma tempestade, certamente seríamos levados pelas águas. Havia muitos sinais de erosões recentes, árvores caídas e grandes pedras para todos os lados.Pra falar a verdade, adoramos a trilha e curtimos muito a aventura, mas estivemos o tempo inteiro rezando para que não chovesse (ainda bem que fomos atendidos). A Cachoeira das Antas é um espetáculo, mas o melhor de tudo veio com o final da trilha: ela termina lá embaixo, no pé do morro. Então, estacionamos as bikes no hotel que estávamos hospedados (que para nossa sorte era bem próximo), e subimos de teleférico para buscar o carro. A paisagem é fascinante lá de cima. É possível avistar toda a cidade.

Ilha Grande RJ: A sede, a fome e o cansaço não importam. Tudo é compensado com o orgulho da vitória.





01/2000

Foram longos meses de expectativa aguardando a viagem de Ilha Grande. Buscamos muitas informações sobre as trilhas, porque sabíamos que a maioria delas eram feitas especialmente para o Trekking. Estudamos muito diversos guias e revistas sobre a Ilha, especialmente as matérias sobre as trilhas. Nós as tínhamos como verdadeiros desafios, porque sabíamos que o desgaste físico seria muito grande. Também contávamos que o forte calor do mês de janeiro contribuiria para isso.
Quando partimos em direção a Ilha, tínhamos a intenção de permanecer por lá 3 dias. Mas Ilha Grande é um paraíso. Um paraíso de águas claras, cristalinas e fantasticamente coloridas. Coloridas de todos os tipos de peixes, de vidas. Considero tarefa quase impossível descrever sua beleza. É preciso ver e sentir bem de perto para entender o que estou dizendo. Sendo assim, estendemos nossa estadia por mais dois dias, para curtir todos os encantos da Ilha.
Desembarcamos na Ilha a pé. Com mochilas, bikes, na altíssima temporada de verão e sem reservas de hotel. Para preservar a Ilha, a entrada de automóveis é proibida. Após algumas tentativas, conseguimos uma excelente pousada, onde o dono é morador e um profundo conhecedor da Ilha.
Fizemos de tudo: conhecemos diversos tipos de restaurantes (há comida para todos os gostos e bolsos); os passeios de escuna são simplesmente fantásticos; todos os dias, no pôr-do-sol, a parada é obrigatória lá no Bicão (todos conhecem, é só perguntar) e claro, pedalamos muito... Escolhemos duas trilhas: a primeira sai de Abraão e vai até Saco do Céu, e a segunda sai de Abraão e vai até Dois Rios. Nas duas trilhas a volta é pelo mesmo caminho.
O sol aqui já nasce fervendo. Todas as paisagens são fascinantes. Nosso dia começava as 07h:30 min., e só retornávamos para a pousada após as 19:00 horas. Era uma delícia aproveitar um bom banho e sair faminto para escolher um gostoso restaurante. O centrinho da Ilha, em Abraão, é minúsculo, mas percorrê-lo a noite era maravilhoso.
Partimos de Abraão em direção ao Saco do Céu com todos os equipamentos necessários (ferramentas, primeiros socorros, água e comida). Não tínhamos um mapa detalhado da trilha. Sendo assim, não sabíamos exatamente o que encontraríamos pela frente.
Durante todo os percurso é possível encontrar bicas de água potável (é uma delícia!). A trilha é alucinante. Acreditamos que ela seja mais indicada para o trekking, mas não pensamos em desistir por isso. Carregamos e empurramos a bike muito mais do que pedalamos, mas a emoção, a adrenalina de chegar do outro lado da Ilha é maravilhosa. Primeiro você pedala até o topo do morro, ou melhor, carrega. Depois você desce até a praia.
O caminho é de muitas pedras, riachos, bambuzais, paisagens fantásticas, barulhos esquisitos que vêm do meio da mata e, prepare-se: com certeza você levará algum tombo pelo caminho! A trilha é muito pesada, ainda mais se levando em consideração o calor de 42º C. Mas o visual é compensador. Almoçamos no restaurante da Dona Maria, muito famoso para os turistas nesta trilha.
Passado o almoço, os mergulhos e a pausa para descansar, foi necessário juntar minhas últimas forças para voltar. Eu sabia que a volta seria pelo mesmo caminho, portanto também muito difícil. Eu respirei fundo, me agarrei a toda minha coragem e força de vontade, escutei muito bem todo o incentivo e força que o Cris me deu e então, voltamos. Eu consegui. Nós conseguimos. Voltamos inteiros, felizes, realizados e vitoriosos. E como não poderia deixar de ser, fomos tomar banho no Bicão para repor as energias.
No dia seguinte aproveitamos para descansar. Tivemos um problema sério de desidratação devido ao forte calor. Passamos o dia na sombra, a base de frutas, torcendo para que estivéssemos melhores no dia seguinte para a próxima trilha. Nosso maior erro foi acordar na manhã seguinte achando que estávamos bem, preparados para pedalar e encarar uma trilha.
Iniciamos a trilha em direção a Dois Rios, debaixo do mesmo sol de 40º C. Foram precisos apenas alguns Km para descobrirmos que ainda não estávamos bem (de um total de 18 Km). E novamente erramos porque não pensamos em desistir, em voltar para a pousada. Queríamos ir até o fim. A subida desta trilha é menos íngreme, porém mais contínua. Só pensávamos em chegar em Dois Rios para conseguir um barco para voltar, porque estávamos completamente desidratados, sem nenhuma condição física para suportar a trilha.
Quando chegamos a Dois Rios, passamos horas debaixo de uma árvore. Conhecemos o Presídio, mas de longe. Não tínhamos mais forças para andar. Muito menos pedalar. Nós só queríamos um barco. Mas, para nossa surpresa, a praia de Dois Rios não é lugar de parada. Ela é praticamente deserta. Entre seus pouquíssimos moradores, a informação que recebemos é de que como estávamos do outro lado da ilha, era impossível um barco pequeno nos levar de volta. Além de perigoso, levaria muito tempo e ninguém ali estava disposto a fazer isso. E ali mesmo ficamos, deitados na areia, tentando ainda arrumar forças para pensar no que iríamos fazer para sair dali. Não adiantou muito pensar, porque não tínhamos outra saída. Tínhamos que voltar pedalando ou a pé, empurrando nossas bikes. E o calor continuava lá, firme e forte, com a imponência de seus 40º C. Nos agarramos às últimas forças, retiradas do fundo de nossas almas, para conseguirmos voltar. O Cris também estava mal, mas a resistência dele é bem melhor que a minha. Por muito tempo o que me manteve de pé foi o apoio da minha bike.
Passados os 9 Km da subida, já não tínhamos mais água. Nunca fiquei tão feliz por encontrar água na minha frente... Mais uma vez respiramos fundo, e despencamos ladeira abaixo, porque agora teríamos 9 Km de descida (nada fácil, porque tinham muitas pedras pelo caminho, que dificultaram muito a pedalada). Quase desmaiei de felicidade quando avistamos a Vila Abraão (e de cansaço também). Mas nós chegamos... Mais um pôr-do-sol no Bicão e uma alegria imensa na alma por vencer mais um desafio!