domingo, 31 de outubro de 1999

Brotas SP: Muitas cachoeiras e pés de laranja pelo caminho

10/1999.
Feriado prolongado e uma vontade imensa de pedalar por novas trilhas. Desta vez, o lugar escolhido foi Brotas, interior de São Paulo. Mãos ao telefone e muita paciência para encontrar um lugar as vésperas de um feriado de sol e sem reservas. Já estávamos nos conformando com a idéia de ficar em São Paulo quando alguém recomendou procurar hospedagem na cidade mais próxima a Brotas.
A N A L Â N D I A. Sim, Analândia. Um nome em princípio um tanto estranho, mas que representa uma cidade charmosa e acolhedora. Analândia de belas paisagens e uma tranqüilidade de fazer inveja a qualquer morador de cidade grande.
Nos acomodamos muito bem em Analândia. No conforto de uma excelente pousada, aproveitamos para conhecer cada cantinho desta cidade. O Morro do Cuscuzeiro e do Camelo merecem uma visita. (as corujas que você encontrará por lá também!).
E claro, também descobrimos Brotas, a cidade das águas. Águas para todos os gostos e esportes. Sem esquecer da comida da fazenda, que é maravilhosa. Por todos os lados encontramos os mais diferentes tipos de esporte. A galera do rapel, do rafting e do bóia-cross. Além de muitos curiosos, que visitavam a cidade apenas com o intuito de se divertir, desfrutando do conforto da cidade e se encantando com suas cachoeiras.
Saímos bem cedo de Analândia para iniciar a trilha de 35 Km em Brotas. E que bela trilha!Estávamos encantados com a possibilidade de pedalar e ao mesmo tempo conhecer primorosas cachoeiras. A certa altura, podíamos olhar minuciosamente para todos os lados que nada enxergávamos. Apenas uma beleza infinita, da natureza ainda preservada. E foi com satisfação que pagamos todas as entradas das cachoeiras, porque todas estavam muito bem preservadas.
Desta vez, além do nosso companheiro inseparável, nosso amigo sol, também estivemos em companhia constante dos pés-de-laranja. E para que a trilha estivesse completa, paramos ali mesmo na estrada para saborear as laranjas colhidas na hora. Bem, acho que recebemos um castigo por isso... o Cris sofreu um corte profundo no dedo, mas nada que uma boa maleta de primeiros socorros não resolvesse.
Bem, curativo resolvido, prosseguimos em direção ao final da trilha. Como prêmio, fomos acompanhados pelo pôr-do-sol durante o final do percurso. Além de graciosas paisagens, as cachoeiras também impressionaram, por seus encantos, imponência e incrível beleza.

terça-feira, 21 de setembro de 1999

Morungaba SP: Tudo que sobe tem que descer...

09/99. 
Cada visita as bancas de jornais e revistas é uma busca ansiosa por novas trilhas. E foi assim que encontramos a Trilha das Pedras, em Morungaba, interior de São Paulo. Tivemos uma forte intuição de que o lugar seria especial e perfeito para a prática do mountain bike.
Logo na chegada pudemos comprovar isso: os donos do bar onde deixaríamos o carro foram super gentis. Nos surpreendemos quando eles abriram os portões e ofereceram uma garagem tranqüila como estacionamento.
O sol, mais uma vez companheiro inseparável, brilhava como nunca. Já havíamos estudado o mapa da trilha anteriormente e sabíamos que os primeiros Km seriam de longas subidas... contínuas e deliciosas. Sinceramente, pensei que chegaríamos ao céu. A cada nova subida, a cada curva, pausa para muitas fotos. Este lugar tem uma paz especial. O cenário é encantador: nada existia ao alcance de nossos olhos. Somente a natureza, de formosas paisagens.
Pedalamos até encontrar o local que deu nome à trilha: uma paisagem de muitas pedras. Paisagens que nossos corações imaginaram com beleza, porque o forte calor e as queimadas da época destruíram o que deveria ser tão belo... Tudo estava negro lá em cima. Sem vida. Sem cor. Doeu na alma ver de tão perto o sofrimento da natureza. Fomos obrigados a parar por longos minutos para tentar aceitar o que estávamos vendo e seguir nosso caminho.
Durante a volta, nossos pensamentos foram os mesmos. Imaginávamos como esse lugar seria se não estivesse tão castigado pela seca, pelas queimadas. A continuação da trilha, depois de alcançar esta parte mais alta, foi bem tranqüila. E como tudo que sobe tem que descer... Mão nos freios e o coração a mil porque o restante da trilha foi apenas descida, ainda acompanhada de grandes paisagens.Foi muito gostoso curtir o retorno no barzinho onde deixamos o carro. Um lugar muito simples, mas perfeito para fazer o lanche da trilha. As pessoas foram muito simpáticas e nos receberam muito bem. Nunca foi tão gosto tomar refrigerante com sanduíche de mortadela...Tivemos motivos suficientes para planejar uma volta aqui, principalmente pela expectativa de reencontrar a natureza recuperada e muito mais bela.

quarta-feira, 30 de junho de 1999

Itapecerica da Serra, SP: Socorro! Roubaram meu ciclocomputador!

Sábado de sol para mais um dia de trilha. Bikes no bagageiro e ansiedade na alma... Partimos em direção á Itapecerica da Serra, para fazer a Trilha do Templo Kinka-kuji (uma réplica de um Templo feito de ouro no Japão).
As subidas fortes eram constantes, mas não desanimamos. O sol, nosso companheiro inseparável, iluminava o que pouco restou de belo na natureza deste lugar. Durante todo o percurso fomos surpreendidos com cenas típicas da nossa cidade grande: carros e mais carros abandonados entre a mata.
A entrada do Templo é deslumbrante. A perfeição dos detalhes, a beleza, a paz deste lugar é capaz de impressionar qualquer visitante, independente de idade ou religião.
Como verdadeiros marinheiros de primeira viagem, estacionamos as bikes na entrada, em frente à lanchonete. Sem maiores preocupações, entramos a pé. Conhecemos todo o Templo, curtimos a paisagem, tiramos muitas fotos e ainda paramos para o lanche tão esperado a esta altura do dia...
Estivemos no Templo por quase uma hora. Já no caminho da saída, encontramos dois garotos que nada tinham em comum com a paz daquele lugar: no mesmo instante nos olhamos, pensamos nas bikes e saímos correndo em direção a elas.
Ufa! As bikes ainda estavam lá... Nos preparamos para partir, e poucos metros depois da saída, eu perguntei ao Cris se ele havia pegado meu ciclocomputador. Ele disse que não, e imediatamente nos lembramos daqueles dois garotos muito estranhos que nós encontramos há pouco tempo. O Cris então saiu correndo em direção ao Templo novamente.
Eu esperei por alguns minutos que mais pareceram horas... O Cris saiu do Templo correndo em minha direção, me devolveu o ciclocomputador e disse-me para pedalar como nunca havia pedalado antes... Mal pudemos conversar. Pedalamos os 16 Km da volta praticamente sem nenhuma parada.
Quando chegamos ao local onde o carro estava estacionado (e seguro!), o Cris então me contou com detalhes o que havia ocorrido dentro do Templo: Quando ele localizou os dois garotos, foi possível perceber na feição deles que algo estava errado. O primeiro pedido para que devolvessem o ciclocomputador foi educado. Mas, como o pedido não foi atendido, foi necessário apelar para outro jeitinho... um soco de direita adentrou a face daquele infeliz que havia levado o que compramos com tanta dificuldade! E o ciclocomputador voltou imediatamente para as mãos do Cris.E por esse motivo nós tivemos que sair correndo, porque não sabíamos o que os garotos seriam capazes de fazer caso nos encontrássemos novamente no mesmo caminho. Voltamos para São Paulo um tanto assustados, porém mais espertos . O susto serviu como experiência, para prestar mais atenção e tomar mais cuidado da próxima vez.

segunda-feira, 31 de maio de 1999

Nazaré Paulista - Como vencer uma trilha após três longas tentativas (desastrosas, mas engraçadas...)

O local escolhido para a trilha de estréia foi Nazaré Paulista. Distante de São Paulo 120 Km, a estrada que leva até lá é ótima. Os últimos 20 Km são de terra batida, mas o sacrifício é compensado pela beleza do lugar. A trilha é leve, de 20 Km em terreno de baixa dificuldade técnica. O lugar é lindo. Estacionamos o carro, nos informamos com a pousada sobre o início da trilha e partimos.
No primeiro Km percebemos que havíamos esquecido o mapa, estudado cuidadosamente nos dias anteriores. Mas o pior é que acreditamos que poderíamos continuar sem ele. Só tivemos absoluta certeza de que estávamos perdidos quando os tais 20 Km já tinham passado e nós ainda estávamos pedalando ao redor da represa. O maior problema da região é que os próprios moradores, que são pouquíssimos, não conhecem nada por ali.
Com 35 Km de pedaladas, o Cris com seu bom condicionamento físico não reclamava da distância. Mas eu, pobre mortal, já não agüentava mais. Minhas pernas já não obedeciam mais, apenas pedalavam porque tinham que seguir a bike do Cris que seguia na minha frente...
Com 45 Km, descobrimos o motivo pelo qual estávamos perdidos: nós iniciamos a trilha para o lado contrário. Assim, transformamos o percurso de 20 Km em um caminho que chegaria a 70 Km . Para nossa alegria, estávamos próximos a um Pier. E mesmo contra a nossa vontade, fomos obrigados a voltar para a pousada de lancha, porque não tínhamos mais condições físicas e psicológicas de prosseguir pedalando.
Hoje nós podemos rir de tudo isso. E aprendemos muito bem que a primeira coisa a verificar na bagagem é o mapa. O sentimento de frustração deste dia nos levou ao mesmo lugar no final de semana seguinte, para percorrer a trilha no caminho certo.
Chegamos novamente a Nazaré Paulista com um lindo dia, na maior expectativa. Diante dos mesmos preparativos, estacionamos o carro, não esquecemos o mapa e marcamos o almoço da pousada para a volta da tão esperada trilha.
Mas então, quando já estávamos próximos dos 4 Km de trilh... CRASH!!! O pedal da bike do Cris caiu! Voltamos os 4 Km, andando, conseguimos uma chave adequada, resolvemos o problema e prosseguimos a trilha, mas CRASH!!! de novo... e então enxergamos o parafuso espanado do pedal, que frustrou nossa trilha mais uma vez, nos deixando com toda raiva do mundo.
Nem preciso dizer o quanto este dia foi frustrante. Para não perder a viagem, almoçamos conforme o combinado e aproveitamos o lindo dia de sol admirando a beleza do lugar. No dia seguinte, tratamos de levar as bikes para uma revisão e ter certeza de que tudo estava correto.
Novamente, no terceiro final de semana, retornamos com toda persistência. Mais um belo dia de sol, tudo muito bem planejado e verificado com antecedência. Iniciamos a trilha confiantes. Admirávamos cada pedacinho da natureza. E ainda nos encantamos com uma cachoeira muito bem protegida pela mata, em meio à natureza. Um lugar fascinante. Conseguimos então terminar este percurso de natureza tão bela, uma linda cachoeira e muitas histórias para contar...

sábado, 15 de maio de 1999

Onze meses de expectativas até a compra das mountain bikes

Uma das partes mais complicadas na compra das bikes foi a certeza de escolher o modelo mais adequado a nós dois. Depois de muitas leituras nas revistas especializadas e muitas pesquisas na Internet, começamos a visitar as lojas.
Acredito que visitamos as principais lojas de São Paulo. Selecionamos por região e durante meses nossos finais de semana foram assim: de loja em loja, com lápis e papel na mão... Aos poucos nos habituamos com as marcas e modelos e as diferenças nos equipamentos.
Há quatro meses estávamos pesquisando e juntando dinheiro. Viajamos para a Ilha do Mel já sabendo que logo que voltássemos poderíamos realizar a tão esperada compra. Viajamos com as nossas primeiras bikes mas já imaginando como seria quando estivéssemos com as novas.
Fazia uma noite deliciosa na Ilha. Jantávamos na pousada assistindo ao noticiário da TV que já não acompanhávamos há alguns dias. De repente, como num choque elétrico de alta voltagem, nos olhamos estarrecidos diante da TV: devido a problemas políticos (que não quero relembrar aqui!), o dólar tinha disparado e a tendência era continuar a subir a cada dia...
A sensação de perder algo que estava quase em nossas mãos foi simplesmente terrível... parecia um pesadelo e nós não queríamos acreditar. Para não estragar a viagem, decidimos ser otimistas e pensar que quando chegássemos em São Paulo já teríamos notícias melhores. Grande engano.
O dólar realmente disparou e as bikes praticamente dobraram de valor. Sem contar que muitos modelos desapareceram por algum tempo. Os próprios distribuidores estavam com dificuldade para trabalhar, devido ao grande aumento.
Bem, mesmo depois do choque, decidimos não desistir. Continuamos a pesquisar, a visitar, a olhar as lojas. Até que selecionamos a que consideramos a melhor (avaliando atendimento de venda e pós-venda, qualidade e localização). Passamos a visitar somente ela. Nos tornamos amigos dos vendedores antes mesmo de comprar as bikes. A impressão que eu tenho hoje é de que eles acompanharam toda nossa expectativa antes da compra!
Com tanto tempo de pesquisa, já sabíamos o suficiente para comprar as bikes com segurança. A escolha dos modelos também foi feita de forma consciente. É claro que o fator principal levado em consideração foi o custo-benefício, mas com muita cautela.
A espera que duraria quatro meses acabou se transformando em onze longos meses... Na época foi muito difícil esperar. Ter a paciência para não cometer nenhum erro foi essencial. Devo confessar que só consegui porque o Cris soube me convencer.
Da encomenda até a chegada das bikes se passaram poucos dias. Mas para nós, uma eternidade... A maior felicidade então foi quando pudemos levá-las para casa e esperar o grande dia de estréia. Hoje eu sei o quanto foi importante o tempo que soubemos esperar. Foi gostoso curtir essa fase de expectativa, de conquista, de sonho. Fizemos a escolha certa. A bike certa, os equipamentos ideais e todas as ferramentas necessárias.

sábado, 30 de janeiro de 1999

Ilha do Mel PR - Há sempre uma pedra no caminho...



Janeiro de 1999. Depois de vários dias chuvosos, saímos de São Paulo e enfrentamos mais de 400 Km de estrada até Curitiba, no Paraná. De lá seguimos todas as indicações para chegar até a Ilha do Mel, acompanhados de um mundo de mapa nas mãos. Sim, estávamos de férias e queríamos aproveitar estes dias na Ilha com muita tranquilidade. A Ilha do Mel tem belíssimas praias, monumentos históricos, pousadas e restaurantes simples, mas acolhedores e aconchegantes.
Já no Porto, em Pontal do Sul, confesso que nós assustamos com o barquinho que nos levaria até a Ilha, mas já que estávamos lá mesmo... O céu encoberto escondia o sol que nós tanto esperávamos. Após algumas poucas horas, nos deparamos com o refúgio que pedimos a Deus: uma pousada beira-mar, de visual compensador, que enchia nossos olhos de uma beleza selvagem, ainda não tocada pelo homem.
Depois de identificarmos nosso território, conversamos durante horas com o dono da pousada. Ele dizia ser profundo conhecedor das trilhas de mountain bike da região e nos deu muitas dicas. A princípio nos recomendou a trilha de Nova Brasília que leva a Praia de Encantadas. Segundo ele, era o melhor caminho da Ilha para a prática do mountain bike.
Assim como no dia anterior, o dia amanheceu nublado. Mal conseguimos dormir, ansiosos pela nova aventura. Depois de um farto café da manhã, verificamos todos os itens de segurança e seguimos em frente. Iniciamos a pedalada ainda pelo centrinho da Ilha antes de encontrarmos o caminho da trilha.
Os primeiros quilômetros foram de areia fofa, mar cristalino, vegetação nativa e ninguém por perto. Tudo parecia muito perfeito para ser verdade... quando cinco quilômetros depois, nos deparamos com um enorme caminho de pedras, um verdadeiro costão. E claro que não seria difícil de atravessar se a maré estivesse baixa. O dono da pousada só esqueceu de nos avisar sobre os horários de maré alta...
Voltar os cinco quilômetros para a pousada seria demais para o nosso ego. Assim, respiramos fundo e encaramos o desafio, ou melhor, o Cris encarou... Ele carregou a bike dele nas costas e depois voltou para buscar a minha! Em pouco mais de uma hora e muitos arranhões, nós fizemos a travessia e estávamos pedalando em direção ao Morro do Sabão (dá para imaginar por que tem este nome?).
Novamente o meu herói carregou nossas bikes morro acima. Eu? Bem, eu só consegui subir o morro porque subi de “quatro”. É isso mesmo, de quatro. Dei graças a Deus porque a subida estava no fim. Mas, quando chegamos ao topo quase tivemos um enfarte, daqueles fulminantes: a descida do morro era ainda pior que a subida. E mais: a continuação do caminho pela praia era através de um longo caminho de pedras, muito pior do que aquele que nós tínhamos atravessado antes.
Voltar? Nem pensar. Tive vontade de sentar e chorar. Não podíamos voltar porque sabíamos que a volta seria também muito difícil. Então continuamos. A essa altura do dia, o sol já estava a pino. Eu, sem protetor solar, vi a cor da pimenta vermelha se apossar do meu corpo, além de muitos cortes e arranhões.
Continuamos mantendo a calma, pedra por pedra, escorregão por escorregão. Não tínhamos mais água. Nossos olhos procuravam desesperadamente por algum socorro, mas... não havia ninguém por perto. Ninguém. Nenhum barco, lancha, barraca, helicóptero, avião, nada. Ninguém. Nenhuma santa alma... Estávamos na paz do deserto que tanto procurávamos. Só ouvíamos o barulho das ondas e dos pássaros, que nada poderiam fazer para nos ajudar.
A certa altura, enquanto descansávamos, pensamos seriamente na possibilidade de abandonar as bikes ali mesmo e prosseguirmos a pé. Novamente, respiramos fundo, nos agarramos as nossas últimas forças e seguimos em frente, carregando nossas bikes.
Após seis longas horas, chegamos ao tão esperado destino, a Praia de Encantadas. Já sem forças, nos jogamos no primeiro pedaço de chão que encontramos (mas sem pedras...). Quando as pessoas dali nos viram, tivemos a impressão de que nos enxergaram como verdadeiros extra-terrestres. Ninguém acreditava que viemos por aquele caminho de pedras, no horário da maré alta. Sim, nós viemos. E vencemos.
Após um bom descanso e uma boa refeição, começamos então a nos lembrar que ainda teríamos que voltar... Ah meu Deus... Jamais pelo mesmo caminho! Mas, após algumas informações, já estávamos a caminho da nossa praia: de lancha sim, e em apenas 15 minutos...

quarta-feira, 6 de janeiro de 1999

Quando o Parque do Ibirapuera ainda era o limite

Nos tornamos freqüentadores assíduos do Parque do Ibirapuera. Pedalávamos incansavelmente naquele congestionamento de bikes, pedestres, patins e outros esportes. Mas nos sentíamos realizados: tínhamos uma atividade saudável e um esporte gostoso para praticar nos finais de semana.
Contávamos cada dia da semana para a chegada daquele sábado ou domingo tão esperado no Parque do Ibirapuera. Essa espera nos trazia vida, uma vontade cada vez maior de aproveitar cada minuto do nosso tempo para praticar esportes e fazer o que realmente gostávamos.
Na sexta-feira a noite já arrumávamos tudo para a pedalada do dia seguinte. No sábado acordávamos bem cedo para aproveitar o Parque ainda mais vazio. Mas em pouco tempo já se formava um enorme congestionamento de pedestres na ciclovia.
Mesmo assim nós adorávamos. Depois de horas de pedaladas, escolhíamos dentro do Parque uma lanchonete bem simples que servia uma água de coco deliciosa. Era muito gostoso estacionar as bikes à sombra e nos recostarmos numa árvore para comentar a nossa manhã de sol no Parque.
Pedalamos tanto em ao redor daquele lago, que com o passar do tempo queríamos mais. Acompanhávamos na época revistas especializadas sobre mountain bikes e sonhávamos ir mais longe. Estávamos eufóricos com a possibilidade de fazer trilhas na terra, entre montanhas, rios e cachoeiras. Queríamos o esporte em verdadeiro contato com a natureza. Mas sabíamos que nossas bikes ainda não eram ideais para esse tipo de percurso.
Devoramos inúmeras revistas e livros sobre o esporte, sobre turismo e sobre uma futura (e longínqua) aquisição: uma mountain bike de verdade. Foi nesta época que começamos a estudar o mountain bike. Líamos tudo sobre o assunto, sobre as bikes importadas, com suspensão, os equipamentos adequados e as verdadeiras trilhas. A cada nova pedalada no Parque, estávamos alimentando mais um pedacinho desse sonho. Tivemos muita paciência e curtimos muito esses momentos. Sempre soubemos que sonhar é vital para se sentir feliz e com vontade de viver cada dia mais. Sempre acreditamos nisso.

sexta-feira, 1 de janeiro de 1999

Como tudo começou...O patins ou a bike?

Nós estávamos decididos a fazer algo diferente nos finais de semana. Queríamos algo mais: esporte, vida, adrenalina. Escolhemos uma bela tarde de sábado para ir ao shopping procurar por nosso passatempo. Pensávamos numa bicicleta e fomos decididos a escolher duas iguais. Mas, como nada é fácil...
Vivíamos a época da moda de patins, aliás, mais parecia uma febre. Já andávamos há muito tempo quando nos deparamos com uma grande loja de esportes. Logo na entrada, o Cris fixou os olhos num belo par de patins, estampado escandalosamente na vitrine. E adentrou a loja decidido a mudar de idéia. Sim, ele teve um surto, uma vontade maluca que quase me deixou louca – nós tínhamos escolhido uma bicicleta!
Perambulamos pela loja mais de 15 minutos até que o Cris pediu o tal patins ao vendedor. Enquanto ele calçava o patins, eu insistia desesperadamente para que ele pensasse melhor. Afinal, como poderíamos sair juntos, eu de bicicleta e ele de patins? Eu odiava pensar nessa idéia. Ao invés de nos divertirmos, acabaríamos arrumando uma grande briga.
Após quase duas horas, isso mesmo, duas grandes horas, o Cris caminha em direção ao caixa com aquelas botas pretas desengonçadas nas mãos. Bem, ele parecia estar caminhando para a morte: ele suava, suas mãos estavam trêmulas e ele me olhava com cara de interrogação... Eu sentia que não era o patins que ele queria. E na dúvida, era melhor que ele não fizesse nada sem certeza absoluta do que ele queria.
Já no caixa, eu o segurei pelo braço e sussurrei em seu ouvido: “Diga que esqueceu o cartão de crédito!” Só assim poderíamos ir embora sem maiores problemas com o vendedor, que nos dava atenção há muito mais de uma hora.De repente, ele se vira para o caixa e repete, baixinho, as minhas palavras: “Desculpa, mas ... esqueci o meu cartão de crédito. Vou buscá-lo e passarei aqui mais tarde.” Enfim, eu respirei aliviada, o Cris sorriu pra mim e o vendedor deve estar nos esperando até agora... Depois de tanta indecisão, voltamos para casa e resolvemos deixar a escolha das bikes para outro dia.